sexta-feira, 27 de julho de 2007

Luso-Cultura ou a Decadência do Saber

A cultura ocidental está em decadência e, em Portugal, essa decadência acentuou-se paradoxalmente após o 25 de Abril, talvez devido ao facto das universidades terem sido assaltadas pelos pseudo-diplomas resultantes das passagens administrativas e pelos diplomas de compadrio político e familiar. As novas pseudo-elites foram educadas na facilidade e numa universidade que fomenta o horror activo pelo conhecimento. O fim das ideologias e a apologia do pragmatismo significam, para estas mentes reduzidas, o advento da opinião e da conversa barata, daquilo a que chamámos noutra ocasião a tirania da opinião ou do pensamento refractário à orientação conceptual.
Exorcismos contra a luso-mediocridade:
O Ser é Abismo: carece de fundamento, de sentido, de finalidade e de valor.
Esta verdade insondável só podia ser descoberta no momento em que o homem se descobriu como sendo um indivíduo por oposição a uma sociedade que o manteve adormecido durante milénios. A descoberta do Eu é, num só e mesmo acto, a descoberta da sociedade como tirania. O indivíduo e a sociedade são realidades opostas e irreconciliáveis: o indivíduo só pode afirmar-se contra a sociedade e a sociedade só pode afirmar-se contra o indivíduo. Nesta luta desigual, a razão é a única «arma» que o indivíduo tem ao seu dispor, para poder ser autónomo. Contudo, quando procura a sua autonomia, o indivíduo descobre que está profundamente só no mundo. A solidão, aliada ao sentimento de impotência perante o seu próprio destino e o desenrolar dos acontecimentos, mergulha-o na loucura. Indivíduo, razão e loucura são conceitos e realidades inseparáveis.

A teoria crítica visa a reconciliação entre indivíduo e sociedade, mas prefere sacrificar a sociedade.

Os valores não se ensinam (Natália Correia): respiram-se como respiramos o ar puro de um pinhal não contaminado pela miséria humana. Há lugares onde não se pode respirar valores e um desses lugares é a escola.

A totalidade do ente não se deixa capturar pelo conceito e muito menos pela sua manipulação técnica. Quando se julga que se domina completamente a natureza, ela encarrega-se de mostrar que não é assim: a sua revolta é a revolta contra o tirano que a tenta submeter.

Os pensamentos que se levam demasiado a sério são geralmente falsos e os que acreditam piamente neles, fazendo deles regras de conduta, são idiotas e inumanos. A vida é muito mais importante que um pensamento bem pensado. Diante da sua riqueza infinita, o pensamento torna-se falso.

Quem leva muito a sério o que pensa deixou de acreditar na vida e, sobretudo, numa vida de qualidade.

Os meios de comunicação de massas são os maiores adversários do pensamento irreconciliável e autónomo. Ali onde eles gritam, o pensamento cala-se de vez.

Pensar é mergulhar na solidão, longe da praça pública, onde os átomos sociais repetem até à náusea as mentiras e os slogans de todos os dias.

Uma mulher histérica pensa com a vagina.

A racionalidade burocrática é um procedimento técnico que nos obriga a não dizer a verdade. O procedimento está de tal modo elaborado que não permite outra resposta que a glorificação do próprio sistema burocrático. Burocracia é sinónimo de mentira.

As ciências da educação são uma invenção da burocracia.

A burocracia silencia a verdade de modo a perpetuar o sistema que a alimenta.

As pedagogias que visam fomentar o espírito crítico esquecem-se que este não pode ser ensinado.

O «estágio integrado», em vez de preparar professores competentes, cria professores incompetentes e dependentes, incapazes de dar uma aula.

Não se ensina a ser professor. A burocracia cria professores em série para que não haja verdadeiramente professores.

Além da competência científica, um professor deve ser um indivíduo saudável. O que falta no ensino é sanidade mental e cognitiva.

Uma biblioteca privada deve ser um reflexo do perfil psicológico e cultural do seu proprietário; caso contrário, é um mero aglomerado de livros.

Uma mulher chega a uma livraria e pergunta ao empregado:
– “Quais são os livros mais vendidos neste momento?”
O empregado responde:
– “São as obras de Vattimo e as de Lyotard...”
– “Então, dê-me todas essas obras...”. responde a mulher.
Esta mulher saiu radiante da livraria. Afinal, levava no saco as obras mais vendidas!

A burocracia cria dependência: os indivíduos são condicionados a esperar que o sistema resolva os seus próprios problemas.

Ao deixarem de ter problemas, os indivíduos sujeitos à burocracia tornaram-se problemáticos – indivíduos mentalmente perturbados, incapazes de pensar.

Actualmente, já não se pode distinguir entre a sociedade e os asilos como instituições totais: a sociedade pós-moderna é um imenso asilo de alienados mentais.

O feminismo tornou-se um movimento, ou melhor, uma atitude totalitária. Quem denuncia o comportamento impróprio de uma mulher é imediatamente rotulado de misógino, machista ou homossexual. As mulheres vencem actualmente ao abrigo deste procedimento repressivo.

O feminismo é uma tremenda mentira.

Sem coragem não há verdadeiramente filosofia. A filosofia é precisamente a coragem de chamar as coisas pelo seu próprio nome.

A mulher dita emancipada é escrava do sexo.

O homem sem coragem é cúmplice da mentira feminista.

Há quem compre livros ao metro! Os livros converteram-se em ornamentos decorativos.

A filosofia herdou de Marx um presente envenenado: o conceito de ideologia.

Ninguém sabe bem o que significa Metafísica. No entanto, o termo soa demasiado bem para que seja esquecido.

Só nos resta pensar contra o homem.

O homem moderno procura o sentido nos lugares e nas actividades errados. O sentido é o que está mais próximo do homem.

O idealismo é a fúria do sistema dominante contra a vida.

A Metafísica renasce a partir do momento em que recuperar a memória do sofrimento.

A ideologia é a finitude da filosofia. Poderá a filosofia recuperar o seu vigor depois de se saber finita?

Fechada em si mesma, a Presença é a instrumentalidade: a eucaristia entendida como presença de uma ausência é a tentativa de manipular e submeter Deus.

A Filosofia só pode ser pensada como ontologia negativa: o Ser é o que “ainda-não-é”.

O leigo diz que a ciência não pode dar sentido à vida, mas também não lhe tira o sentido.

Weber falou do desencantamento do mundo. Marx, pelo contrário, diz que o mundo actual é absolutamente encantado, na medida em que tudo se converteu em mercadoria e esta mais não é do que um fetiche.

Não há futuro em Portugal: a mediocridade do povo português é de tal ordem que não só não trabalha como não deixa os outros trabalhar. As universidades são antros de mediocridade e de golpes baixos: ser inteligente e culto é condição não grata. O estrelato provinciano é composto por gente que teme a sua própria sombra. A loucura é o seu traço de carácter mais evidente.

Em Portugal, não há povo; há zé-povinho – parolo e estúpido, fácil de ser manejado e domesticado pelos medíocres. O seu preço é baixo: basta uma garrafa de vinho reles para conquistar a alminha do zé-povinho e dos seus lideres apagados e trapaceiros.

A saudade é uma invenção portuguesa e não poderia ser de outro modo, porque só os portugueses são capazes de ansiar por aquilo que nunca tiveram: uma cultura moderna, voltada para o futuro.

O português é muito pouco criativo: copia aquilo que não presta.

A saudade portuguesa traduz a incapacidade do português para criar uma cultura própria: o passado português é um mito.

É uma fatalidade viver em Portugal: a única cidade bela do país – o Porto – é também uma das mais medíocres. Repovoado por novas gentes o Porto poderia ser um império.

Descartes esqueceu-se de afirmar que o homem, tal como qualquer outra forma de vida, é um animal mortal. O cogito não tolera a morte e com razão, porque a morte é a sua aniquilação.

Só os loucos continuam ainda a dizer que o homem é um ser livre: os que os levam a sério estão internados nos hospitais psiquiátricos, dependentes de drogas e de tratamentos que testemunham a sua não liberdade essencial.

A libertação não é compatível com uma filosofia da liberdade. Se somos livres, não precisamos de nos libertar; mas, se não somos livres, devemos lutar contra aquilo que não nos deixa ter e usufruir uma vida sem angústia.

A liberdade é uma ideologia que glorifica a sociedade não livre.

As temáticas mais verdadeiras de Heidegger herdou-as ele do marxismo, em particular de Georg Lukács.

Só uma guerra intestina nos pode livrar das pseudo-elites e das suas acções malévolas. Como dizia Heráclito: a guerra é o pai de todas as coisas, e, sem ela, não há mudança. Para mudar, Portugal deve livrar-se das luso-moscas que o dirigem, no governo ou na oposição.

Os governos do PSD destruíram a cultura e o ensino, mumificaram Portugal com betão, criaram a sua TV, aniquilaram património, criaram recibos verdes e falsificaram as contas públicas em nome do rigor.

A economia é a ideologia preferida dos abusadores do luso-poder, que a apresentam como se não fosse uma ideologia.

As pseudo-elites nunca leram um livro, nem sequer na retrete.

Antero de Quental conhecia bem a causa do atraso dos povos ibéricos: a Igreja Católica Portuguesa, que conspira constantemente contra a liberdade, através de homilias ou dos seus rapazes.

Um comentador político pergunta ao outro: onde descobriste essa frase de Alexandre Herculano? O programa chegou ao fim sem resposta à questão. Sintomático: os lusos-universitários recolhem afirmações consideradas «bonitas», fazem teses extensas, mas não sabem pesquisar. Aliás, em Portugal, investigar significa apropriar-se indevidamente de pequenas frases roubadas aos outros, sacar ficheiros da Internet e depois montar um texto, evidentemente sem ideologia.

Em Portugal, a Internet fomenta mais do que combate a luso-ignorância activa (Lacan).

J Francisco Saraiva de Sousa

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