terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Defesa do Espírito Crítico

Ontem (10 de Dezembro de 2007) tomei conhecimento de uma estatística deveras preocupante: os alunos que ingressam nos cursos de Letras, em particular no curso de Filosofia, são oriundos das classes sociais menos favorecidas. O aspecto negativo não reside na proveniência social, mas no facto do que isso significa num país em que não existe realmente "igualdade de oportunidades", como é o caso de Portugal, de resto governado por classes dirigentes muito "amigas da corrupção" e pouco democráticas. Estes alunos "escolhem" a Filosofia não por opção ou vocação, mas porque não têm outra alternativa: carecem de competências cognitivas e são alunos com um longo historial de insucessos escolares. Por isso e pelo facto de não termos bons professores universitários, a Filosofia não encontra futuro em Portugal e está fragilizada em relação às políticas economicistas e burocráticas levadas a cabo pelas classes dirigentes.
No meu blogue «CyberCultura e Democracia Online», tenho chamado a atenção dos portugueses para esta situação de penúria intelectual portuguesa e, no post «Hipótese do Cérebro Social», fiz esta proposta:
«A Filosofia deve distanciar-se das Faculdades de Letras e de Ciências Sociais e ser integrada nas Faculdades de Ciências e/ou de Matemática.
«As alternativas profissionais que os cursos de Filosofia oferecem, nomeadamente relações públicas, são tarefas para ser executadas por escravos e não por filósofos. Os professores universitários portugueses de Filosofia revelam nestas propostas a sua imbecilidade congénita. O seu lugar não é na academia, mas num hospício para atrasados mentais, que, sem competências, se apoderaram por métodos escusos de empregos garantidos e sem real avaliação. As Tias-do-Chá e os Pandas devem ser denunciados e humilhados publicamente, pelo lixo dos seus trabalhos publicados, pela falta de qualidade das suas aulas, meras projecções da sua substância protoplasmática diabolizada, e pela incompetência manifestada pelos seus licenciados, mestres e doutores. Mais: os seus crimes, bem como as suas ligações corruptas a outras instituições obscuras, devem tornar-se públicos e alvo de punições disciplinares.
«E, para evitar que a Filosofia seja seguida pelos mais néscios dos alunos, torna-se necessário obrigá-los a estudar matemática e ciências, com domínio pleno da estatística e de outros métodos quantitativos. Platão não estudava "porcaria", mas matemática. Por isso, é muito estranho que se ensine Platão sem se saber matemática! Estou certo que não será este governo a levar a cabo estas reformas estruturais do ensino, mas a denúncia fica feita neste país que nega o futuro desafogado, devido à mediocridade das suas elites incultas mas diabólicas. (O mesmo poderia ser dito de outros cursos. Mas coube-me aqui salvar a honra da minha dama: a Filosofia.)».
Noutros posts, tenho tentado explicar esta situação de indigência intelectual e defendido o pensamento crítico. Eles podem ser lidos aqui: Modelos Críticos, Eclipse do Pensamento Crítico e O Eclipse da Democracia. A filosofia é inseparável da democracia. Ora, como a democracia está a ser subvertida internamente pelas novas classes dirigentes e pela corrupção, cabe aos filósofos dignos desse nome defender o pensamento crítico e a democracia, sabendo que nesta luta estão sozinhos, porque o poder dispensa a crítica.
J Francisco Saraiva de Sousa

12 comentários:

E. A. disse...

Olá!
Interessante estatística - onde a obteve?
Para mim o curso de Filosofia foi um luxo que pude escolher, a par de outros que tenho tido. Não faço parte da estatística. As melhores notas que tinha antes de escolher Humanidades (no 9º ano) era a Matemática e Desenho, e assim fui eu pelo amor à sabedoria (na altura achei a melhor via, ainda que muitos colegas vieram de ciências, etc.).

Noto duas coisas: que a maior parte dos alunos vão com a disposição de tirar Filosofia como se tirasem Economia, Secretariado ou outra coisa qq - o que foi um ultraje para mim, grande indignação mesmo. Por outro lado, aparecem alunos brilhantes, mesmo muito bons, quase a roçar o autismo (a sério!). Mas como pretendem fazer vida académica, bajulam os professores, tornando-se seus acólitos e arriscando ficar igual a eles, ou seja, investigando o mesmo, e portanto os pressupostos persistem...
Por isso digo que, apesar de tudo, o IFL tem sido uma lufada de ar fresco na Nova, porque é aberto a vários tipos de projectos (os não-expectáveis).

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Foi uma investigação da Universidade Clássica de Lisboa e passou na TV. :)

Renato Martins disse...

Interessante post francisco.

tambem é infeliz saber que a maioria dos alunos de filosofia queriam mesmo era psicologia, mas nao havia media...

abraço

Helena Antunes disse...

Tal também acontece em Sociologia onde vão parar muitos alunos que o que queriam era Psicologia, mas como a média não era suficiente lá vão parar a Sociologia. Sem motivação nem vocação fazem o curso. Maus profissionais, geralmente.
Já eu entrei em Sociologia porque realmente queria! Não me veria noutro curso!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Este aspecto do problema preocupa-me muito. Os alunos que frequentam "letras", neste caso filosofia e sociologia, fazem-no, não por opção, mas porque não conseguiram entrar noutros cursos.
Penso que os responsáveis desses cursos deviam pensar mais no assunto, em vez terem orgasmos mentais! Preocupante: maus profissionais, como diz com razão a Helena.

Helena Antunes disse...

Orgasmos mentais??? :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Enganei-me na expressão: era "masturbações mentais" em vez de "orgasmos mentais", até porque o orgasmo é uma experiência cerebral. :)

E. A. disse...

:D vim visitar o cyberphilosophy, só tenho o "-democracia" nos favoritos e esqueço-me deste.

Excelente imagem, essa da masturbação: é o que se assiste durante as aulas de alguns profs: uma fricção enlevada, fitando o climax. :))))

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Mudou de imagem. :) Tenho andado pouco atento a este blogue e aos outros. Acabo por privilegiar o Democracia Online. Também não tenho tempo para tudo. Vou tentar mantê-los com posts originais, mas poucos por mês. :)

E. A. disse...

É um Chagall. Fartei-me de ver a minha cara estampada. Gosto do anonimato.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Também gosto do Chagall. Estava a meditar sobre a teoria da consciência de Chalmers e cheguei à conclusão que, tentando conciliar o funcionalismo e o dualismo de propriedade, termina no panpsiquismo. A filosofia da mente está muito escolástica e dogmática, desprezando os mestres.

E. A. disse...

O Chalmers tem blog. E tem um ar descontraído, mesmo à surfista australiano... :))

Já experimentou "falar" com ele? Eu desconheço o seu pensamento em profundidade. :(