segunda-feira, 16 de junho de 2008

Teoria Social da Internet

A Internet é frequentemente descrita em termos que implicam um espaço virtual ou ciberespaço (Adams, 1997). A Internet é uma rede de computadores interconectados de modo a criar uma matriz de troca de informação, através de Web sites (páginas estáticas ou interactivas), e-mail (mail electrónico) e IRCs (Internet relay chat room), produzindo um meio virtual. Este espaço é usado pelas pessoas como um lugar para congregação, comunicação e formação de comunidades virtuais (Reymers, 2002). Isto significa que o mundo virtual da Internet é um mundo social e, como tal, é um mundo histórico, perfeitamente inserido e integrado no mundo off-line.
Zygmunt Bauman identificou quatro tipos de «identidade pós-moderna» — o deambulador (flâneur), o vagabundo, o turista e o jogador, que se desenvolvem sobre o pano de fundo do tipo moderno de personalidade, o peregrino.
1. IDENTIDADES PÓS-MODERNAS. Bauman (2007) foi lacónico na elaboração da sua tese sobre o problema da identidade, por oposição à ambivalência da formulação de Kellner (1992):
«A minha posição é que, embora seja verdade que a identidade «continua a ser um problema», não é «o problema que foi ao longo da modernidade». Com efeito, se o «problema da identidade» moderno era o de como construir uma identidade, mantendo-a sólida e estável, o «problema da identidade» pós-moderno é em primeiro lugar o de como evitar a fixação e manter as opções em aberto. No caso da identidade, como noutros casos, a divisa da modernidade era a «criação», e a da pós-modernidade é a «reciclagem». Ou podemos também dizer que se «o media que era a mensagem» da modernidade foi o papel fotográfico, o supremo medium pós-moderno é a cassete de vídeo. A principal ansiedade ligada à identidade dos tempos modernos nascia da preocupação com a durabilidade, e é hoje a preocupação de evitar o compromisso. A modernidade construía em aço e betão; a pós-modernidade, em plástico biodegradável».
1.1. Peregrino. Bauman (2007) descreve o peregrino como «a alegoria mais adequada da estratégia de vida moderna, empenhado que estava na assustadora tarefa da construção da identidade». Contudo, «o mundo já não é hospitaleiro para os peregrinos», que «perderam a batalha ao vencê-la». «A pedra de toque da estratégia de vida pós-moderna não é a construção da identidade, mas a prevenção da fixação». Bauman sustenta que, «do mesmo modo que o peregrino foi a alegoria mais adequada da estratégia da vida moderna, empenhado como estava na assustadora tarefa da construção da identidade, o deambulador, o vagabundo, o turista e o jogador desenham um conjunto que é a metáfora da estratégia pós-moderna, animada pelo horror à ligação e à fixação».
1.2. Deambulador. A experiência do deambulante é a de quem vai «sair para deambular como se sai para o teatro, descobrir-se a si próprio entre estranhos e estranho a eles, focar os estranhos como «superfícies» — para que «aquilo que se vê» esgote «o que eles são», e sobretudo vê-los e conhecê-los não mais do episodicamente».
1.3. Vagabundo. «Onde quer que vá, o vagabundo é sempre um estranho; nunca será «o natural», o «estabelecido», alguém «com raízes na terra» — e não porque não o tente: faça o que fizer para ganhar as boas graças dos naturais, permanece demasiado recente a memória da sua chegada — quer dizer do facto de antes estar alhures; traz ainda consigo o cheiro de outros lugares, qualquer coisa contra a qual a casa dos naturais foi construída».
1.4. Turista. «O turista é um caçador consciente e sistemático de experiências, de uma experiência nova e diferente, da experiência da diferença e da novidade — uma vez que as alegrias do familiar murcham depressa e perdem o seu atractivo. Os turistas querem mergulhar-se num elemento estranho e bizarro — na condição, todavia, de esse elemento não perdurar para além dos dispositivos que o transformam numa prestação de prazer e de se poder pô-lo de lado quando bem se entenda».
1.5. Jogador. «O mundo do jogador é o mundo do risco, da intuição, das precauções a tomar. Cada jogo tem o seu começo e o seu fim. Quem não se satisfaça com o desfecho, deve «deixar para trás das costas» o que perdeu e começar tudo de novo, demonstrando que é capaz de o fazer. O jogo é como a guerra, embora a guerra que o jogo é não deixe cicatrizes mentais nem alimente rancores».
Reconhecendo a dificuldade em combinar estes quatro tipos «num mesmo estilo de vida consistente», Bauman (2007) afirma que há «uma componente considerável de esquizofrenia na personalidade pós-moderna — o que em certa medida poderá dar conta da inquietação, inconstância e indecisão manifestas das estratégias de vida adoptadas. (...) As quatro estratégias de vida pós-moderna, que se interpenetram e sobrepõem, têm em comum o facto de tenderem a tornar as relações humanas fragmentárias e descontínuas: combatem, todas elas, as relações que implicam consequências associadas e a longo prazo, e militam contra a construção de redes duradouras de obrigações e deveres mútuos. Todas elas promovem e favorecem uma distância entre o indivíduo e o Outro e apreendem o Outro fundamentalmente como objecto de uma apreciação estética, e não moral — uma questão de gosto e não de responsabilidade». A esta incapacidade moral está associada a invalidez política dos homens e mulheres pós-modernos, isto é, metabolicamente reduzidos. Tanto o deambulante como o vagabundo, o turista e o jogador são personalidades cuja participação no mundo comum é sobretudo constituída através da rejeição defensiva de empenhamentos sociais mais positivos e abertos e, nessa medida, todos estes tipos tendem para a direcção de âmbitos pessoais mais estritamente definidos e cépticos. Nesta perspectiva, a Internet parece favorecer qualquer um destes tipos de personalidades pós-modernas.
2. ESTRATÉGIAS DE VIDA E A INTERNET. Slevin (2002) adaptou esta tipologia das personalidades pós-modernas e transformou-a numa tipologia dos tipos de utentes da Internet ou net-utentes. Seremos mais criativos na terminologia do que foi Slevin e mais cuidadosos a transpor os tipos de Bauman para o mundo da Internet.
2.1. O Peregrino e a Internet. Os utentes peregrinos ou netperegrinos são aquelas pessoas que ficam desconcertadas com as possibilidades da Internet. Para eles, a Internet é um mundo sem lugares e cheio de obstáculos sem um objectivo claro, um mundo onde não tem cabimento caminhar e o caminhante é constantemente tentado a desviar-se do caminho escolhido, eternamente adiando ou mesmo esquecendo o seu destino. É um mundo desconcertante em que os websites surgem do nada e desaparecem de novo sem aviso prévio e raramente existem o tempo suficiente para que o peregrino dos tempos modernos encontre o seu caminho por entre eles. Do seu ponto de vista, a Internet dificilmente poderá facilitar e apoiar uma narrativa coerente do eu, porquanto, segundo crê, a Internet cria um mundo irreal habitado por pessoas falsificadas e em quem não se pode confiar, que podem adoptar qualquer identidade que queiram e até fazer experiências com elas.
A visão peregrina da Internet é a mesma defendida por todos aqueles investigadores que destacam o lado escuro da Internet: a sua cyberciência é ainda a dos peregrinos da modernidade. Contudo, nem todos os peregrinos têm esta visão negativa da Internet e suspeito mesmo que todos aqueles que contribuíram para a sua construção eram peregrinos. Este simples dado mostra que reduzir a identidade moderna à peregrinação não resiste à sua confrontação com a realidade empírica. Se existem tipos de personalidade, eles não surgiram de modo sucessivo, como se fossem meras construções sociais, caídas não se sabe donde e condenadas a sucederem-se umas às outras, em função das configurações sociais e históricas. Além disso, os estudos neurobiológicos mostraram claramente que determinados indivíduos portadores de alguma deficiência cerebral não conseguem auto-controlar-se e muito menos fazer opções. O conceito de liberdade originária não se coaduna bem com o conceito de determinações ou construções sociais. Um homicida não tem como escapar ao seu destino, a menos que seja preso antes de cometer o seu primeiro crime, e o mesmo poderia ser dito do pedófilo, do abusador ou do violador. Mesmo aceitando o conceito de peregrino como uma estratégia de vida, seríamos obrigados a diferenciá-lo para dar conta da realidade empírica.
Tal como elaborado por Bauman, o peregrino mais não é do que uma narrativa que, quanto mais séria for tida, mais distante da realidade se revela. Com efeito, a Internet é uma criação de peregrinos que tudo fizeram e continuam a fazer para a conservar como um espaço da liberdade. Com base na tipologia das orientações de carácter de Erich Fromm, podemos afirmar que o peregrino tem uma orientação produtiva de carácter, aquela que está por detrás da construção da nossa civilização ocidental e que representa a estrutura de carácter em que o crescimento e o florescimento de todas as potencialidades humanas constituem o fim a que se subordinam todas as outras actividades, incluindo o estilo de surfar. De certo modo, os cibernautas peregrinos constrõem aquilo que os restantes utentes se limitam a utilizar em função dos seus interesses e preferências. Isto implica que o deambulador, o vagabundo, o turista e o jogador sejam mais utilizadores dos serviços prestados pela Internet do que criadores de novas tecnologias, os quais tendem a ser peregrinos.
2.2. O Deambulador e a Internet. Os netdeambuladores são aquelas pessoas que navegam descomprometidamente de webpage para webpage, de canal de IRC para canal de IRC, de newsgroup para newsgroup, optando por aceitar ou declinar os pedidos de troca de mensagens que chegam pelo ICQ. Ao proceder deste modo, mergulham na liberdade final de estar presente mas fora de alcance. Para eles, a Internet é simultaneamente um retiro ideal e um meio para elevar o seu estilo de comunicação a um nível superior de perfeição.
2.3. O Vagabundo e a Internet. Os netvagabundos são aquelas pessoas que têm uma série de endereços de e-mail inactivos ou em desuso. Registam-se como utilizadores de websites para os quais há muito esqueceram as palavras de acesso. Começam a elaborar homepages e depois abandonam-nas. Erram pela Internet, agarrando ofertas de contas grátis, não tardando a ser excluídos ou expulsos por não as terem usado.
2.4. O Turista e a Internet. Os neturistas são aquelas pessoas que usam a Internet para participar em experiências estranhas e bizarras que acabam com um clique no rato. Podem escapar ao seu mundo familiar e entrar em diálogo com quem olhar para a vida de uma maneira muito diferente. Podem analisar webpages que assustam, chocam e põem em causa as suas expectativas. No entanto, esta estratégia aumenta a sua confusão quando se trata de decidir qual o local a que poderão chamar o seu lar e qual o local aonde apenas vão de visita. O seu pesadelo consiste em ser apanhado entre o medo das saudades do lar e o medo de ficar preso no lar. Para eles, a Internet oferece um espaço a explorar.
2.5. O Jogador e a Internet. Os netjogadores abordam a Internet como um jogo de computador alargado, ou seja, como uma experiência mediatizada inserida por opção e que pode ser concluída a qualquer momento, deixando os participantes intocados, a não ser pela perda de tempo decorrido durante o jogo. O objectivo do jogador é ganhar a todo o preço, ao mesmo tempo que se protege o melhor possível do perigo. Depois de atrair outros para uma conversa no IRC e conquistar a sua confiança, o jogador limita-se muitas vezes a sair do jogo. A única razão a apresentar seria que «todas as coisas boas têm de acabar a certa altura». Para consternação dos outros que não são jogadores, os jogadores só raramente estão dispostos a suspender a descrença e a jogar o mesmo jogo outra vez.
Esta tipologia dos utilizadores da Internet não foi elaborada com base num cyberestudo empírico, mas limita-se a aplicar as classificações das estratégias de vida moderna e pós-moderna de Bauman ao estudo das utilizações/concepções da Internet. Para todos os efeitos, pressupõe o conceito implícito de que o tipo de personalidade do utente off-line dita o tipo de uso que faz on-line da Internet. A cada tipo de personalidade corresponde um determinado estilo de surfar na WWW ou na enterprise-wide web e uma determinada concepção da Internet.
De certo modo, seria possível estabelecer uma ligação orgânica entre estes cinco tipos de identidades e as cinco orientações de carácter de Erich Fromm: Se o peregrino corresponde à orientação produtiva, o deambulador corresponderia à orientação receptiva (masoquista), o vagabundo, à orientação explorativa (sádico), o turista, à orientação acumulativa (destrutiva), e o jogador, à orientação mercantil (indiferente). A correspondência não é perfeita, porque, na actual sociedade metabolicamente reduzida, a abertura ao mundo é feita à custa da fragilização e liquidificação do self: o indivíduo metabolicamente reduzido é confinado à sua vida metabólica e à satisfacção das suas necessidades, não em termos humanos, porque carece de self sólido e autónomo, nem sequer em termos animais, porque os seus instintos regrediram e são manipulados pelas indústrias do consumo e do lazer programado. A liquidificação do self significa passividade, receptividade, resignação, numa palavra, efeminamento.
Esta tipologia não leva em conta as diferenças etárias, sexuais e de género que possam existir entre os utilizadores da Internet e o modo como essas diferenças se reflectem nos estilos de surfar. Pelos estudos disponíveis, podemos dizer da Internet aquilo que foi dito da indústria pornográfica: Apesar da vasta presença feminina, a Internet continua a ser uma "indústria" produzida por homens e para homens, conceito bem patente nos websites sexuais e pornográficos. Os próprios estudos incidem muito sobre os usos sexuais e aditivos que os homens fazem da Internet.
3. TIPOS DE UTENTES. Diversas tipologias de diferentes tipos de utentes da Internet em relação à actividade sexual e/ou de relação on-line foram propostas (Cooper, 1998; Griffiths, 1999; Young, 1999). Com base num inquérito de 9177 utentes da Internet, Cooper, Putnam, Planchon & Bóies (1999) descobriram que 8% gasta 11 ou mais horas por semana envolvidos em propósitos sexuais on-line e elaboraram um modelo contínuo das pessoas que usam a Internet para propósitos sexuais. Este modelo destaca três tipos de utentes:
3.1. Os utentes recreativos (recreational users) são aqueles que acedem a material sexual on-line mais para propósitos de curiosidade ou de entretenimento e que são tipicamente vistos como não tendo quaisquer problemas associados com os seus comportamentos sexuais on-line.
3.2. Os utentes em risco (at-risk users) são aqueles que, se não fosse a acessibilidade da Internet, nunca desenvolveriam qualquer problema associado com os seus comportamentos sexuais on-line.
3.3. Os utentes compulsivos sexuais (sexual compulsive users) são aqueles que usam a Internet como um fórum para as suas actividades sexuais, dada a sua inclinação para a expressão sexual patológica.
A tipologia dos utilizadores da Internet apresentada está completamente centrada nos seus usos sexuais e/ou amorosos. Convém dizer que, no
meu estudo, os indivíduos homossexuais examinados já eram tendencialmente viciados em sexo na vida real e, graças ao advento da Internet, viram nela uma oportunidade para alargar o seu oásis erótico gay, usando-a exclusivamente para conquistar novos parceiros sexuais e recolher material pornográfico diverso. Porém, apesar da maioria deles procurar concretizar um encontro ocasional off-line, alguns acabam por ficar iludidos com as personagens construídas on-line e apaixonam-se por elas, perdendo a capacidade de discriminar produtivamente entre realidade e fantasia amorosas. Quando arriscam um encontro real, tendem a sentir uma enorme frustração: o parceiro on-line idealizado não corresponde ao indivíduo real que têm diante dos olhos. A arena erótica virtual pode aprisioná-los e condená-los a uma vida solitária e ilusória. Pelo menos, o cibersexo, o sexphone e o sexo via web-cam protege-os das doenças sexualmente transmissíveis: são formas de sexo seguro e livres de envolvimentos ou de compromissos.
Os frequentadores da Internet são de diversos tipos e géneros: temos os que são gays, os que dizem ser bissexuais, muitos dos quais casados ou com namoradas, diversos tipos de parafilias, os prostitutos e os bandidos ou assaltantes. A existência destes dois últimos tipos, sobretudo os últimos, cria uma certa insegurança e perigosidade nos encontros sexuais reais: assaltos, violência e facadas são frequentes. Contudo, muitos dos frequentadores tornam-se amigos, após algum tipo de envolvimento sexual off-line, e usam a Internet para trocar informações entre si: formam-se assim comunidades gay virtuais que se actualizam diversas vezes em encontros reais e festas entre amigos que vivem em locais distantes ou mesmo próximos.
A natureza anónima da Internet atrai provavelmente um número significativo de pessoas cujas preferências sexuais se desviam da norma, bem como daquelas que desejam ocultar a sua actividade sexual, mesmo que seja mais normativa, como sucede com muitos homens heterossexuais casados que procuram relações extraconjugais on-line. Todas estas pessoas voltam-se para a Internet como meio de exploração dos seus auto-aspectos importantes e relevantes. Contudo, até mesmo na Internet, pode ser difícil para estas pessoas descobrir outras pessoas com interesses semelhantes e complementares, sobretudo quando estes são muito invulgares, como ainda é o caso do sadomasoquismo (versão dura) ou da pedopornografia.
A Internet atrai frequentemente aquelas pessoas que podem ser estigmatizadas, excluídas ou punidas (incluindo a aplicação de sanções criminais, como sucede com os pedófilos), se os seus interesses sexuais forem conhecidos (McKenna, Green & Smith, 2001). A habilidade da Internet para transferir ficheiros (files) electrónicos de material erótico ou imagens Web-cam pode simplesmente aumentar a sua atracção. Contudo, esta aparente protecção da legal oversight pode ser ilusória, dada a perícia electrónica da polícia ou de outras autoridades reguladoras. Mas, nos casos que não envolvam criminalidade, o Triple A Engine constitui um superfactor que leva as minorias eróticas a usar a Internet para expressar as suas sexualidades: a Internet possibilita-lhes revelar aspectos relevantes dos seus eus sem sofrerem punições e, muitas vezes, esses aspectos assumidos on-line tendem a ser incorporados nas suas vidas reais off-line e nas suas interacções sociais quotidianas. O anonimato relativo da Internet encoraja a auto-expressão e a ausência dos efeitos da interacção física e não-verbal facilita a formação de relações assentes na partilha de valores e de crenças.
4. RELAÇÕES ONLINE. Griffiths (1999) distinguiu três tipos básicos de relações on-line em função do comportamento on-line actual:
4.1. As relações online virtuais (virtual online relationships) envolvem pessoas que nunca se encontraram na vida real. Elas empenham-se geralmente em trocas de texto sexualmente explícito (sexually explicit text exchanges), mais propriamente em cybersexo, e podem trocar os papéis de género (swap gender roles). Embora possam ter parceiros na vida real, não se sentem como sendo infiéis. A relação é geralmente de curta duração. A troca de papéis de género é muito frequente, em especial entre os indivíduos homossexuais que podem assim conviver intimamente com indivíduos heterossexuais, com os quais desenvolvem relações íntimas muito intensas e duradouras, algumas podendo levar à prática regular de cibersexo ou mesmo de sexo real.
4.2. As relações online de desenvolvimento (developmental online relationships) envolvem pessoas que se conhecem on-line mas que desejam eventualmente deslocar a relação do nível on-line para o nível off-line, após se tornarem emocionalmente íntimas. A partilha de compromisso e de intimidade emocionais leva frequentemente ao cibersexo e/ou a um forte desejo de comunicar constantemente na Internet. A relação é geralmente duradoira e resistente.
4.3. As relações online de manutenção (maintaining online relationships) envolvem pessoas que se conheceram primeiramente na vida real (off-line), mas que prosseguem e conservam on-line a sua relação na maior parte do tempo, devido geralmente ao facto de estarem geograficamente distantes. A relação pode ou não ser de longa duração, dependendo do nível de compromisso e de intimidade emocional.
A Internet tornou-se nos últimos tempos o primeiro e o mais rápido meio natural da vida diária, sendo utilizada nos lugares de trabalho, na manutenção de relações pessoais fechadas, na formação de grupos, no fornecimento de apoio social e no envolvimento comunitário, para além dos seus usos sexuais. Ao contrário do que se pensa, a Internet não faz necessariamente dos seus utentes pessoas deprimidas ou solitárias; pelo contrário, a Internet facilita a comunicação e aproxima a família e os amigos, especialmente quando as pessoas envolvidas não podem fazer visitas regulares umas às outras. A Internet constitui um território fértil para a formação de novas relações, favorecendo mais as relações baseadas na partilha de valores e de interesses do que as relações baseadas na atractividade e na aparência física das pessoas, como se verifica no mundo off-line. Porém, a teoria social da Internet está consciente da fragilização ou liquidação do social.
J Francisco Saraiva de Sousa

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