quarta-feira, 5 de setembro de 2007

CyberFilosofia e Teoria da Informação I

Este é um estudo prévio que tem por objectivo contrariar a tese muito americana segundo a qual a cyberfilosofia pode ser reduzida a uma teoria da informação e/ou da computação (teoria da inteligência artifical, nas suas versões forte e fraca).
A teoria da informação é fundamentalmente uma teoria matemática que coloca problemas filosóficos interessantes, pelo menos ao nível epistemológico e lógico, mas insuficiente para dar conta da complexidade da comunicação mediada por computador e seus diversos usos. A cyberfilosofia não é uma mera teoria da informação e da comunicação e, até mesmo quando se debruça sobre esses conceitos, visa a sua ultrapassagem. Com efeito, o mundo da Internet é um mundo social e, como tal, é um mundo histórico. Esta lição de Hegel deve ser integrada na cyberfilosofia, de modo a que esta possa pensar radicalmente a revolução tecnológica do mundo moderno, cada vez mais global e mediado.
A seguir, faremos uma breve revisão de alguns conceitos fundamentais da teoria processual da comunicação, sem pretender esgotar as problemáticas teóricas da comunicação.
AS PROBLEMÁTICAS TEÓRICAS DA COMUNICAÇÃO

De acordo com John Fiske (1995), a comunicação só pode ser estudada exaustivamente mediante várias abordagens disciplinares. O seu estudo assenta — segundo o mesmo autor — em três pressupostos básicos:

1. Toda a comunicação envolve signos e códigos. «Os signos são artefactos ou actos que se referem a algo que não eles próprios, ou seja, são construções significantes. Os códigos são os sistemas nos quais os signos se organizam e que determinam a forma como os signos se podem relacionar uns com os outros».
2. Os signos e os códigos são transmitidos ou tornados acessíveis a outros e transmitir ou receber signos/códigos/comunicação é a prática das relações sociais.
3. A comunicação é central para a vida da nossa cultura: sem ela, toda e qualquer cultura morrerá. Consequentemente, o estudo da comunicação implica o estudo da cultura na qual ela se integra.

Subjacente a estes pressupostos está uma definição geral de comunicação: a comunicação como «interacção social através de mensagens».

Criado por G. Bachelard e desenvolvido por L. Althusser, o conceito de problemática teórica refere-se à configuração dos conceitos teóricos pressupostos num texto ou discurso. A problemática define o «campo» de questões que podem ser formuladas e as formas que as respostas devem adoptar e exclui a apresentação de certas questões e torna alguns problemas impensáveis e alguns objectos invisíveis. Este conceito tem algumas afinidades com o conceito de paradigma forjado por T. S. Kuhn. Por isso, podemos usá-los indistintamente para designar um “campo teórico”, a partir do qual formulamos determinadas questões e adoptamos determinadas respostas.
Existem duas escolas ou problemáticas principais no estudo da comunicação: a problemática processual e a problemática semiótica.

· A problemática processual vê a comunicação como transmissão de mensagens. «Estuda o modo como os emissores e os receptores codificam e descodificam, o modo como os transmissores usam os canais e os meios de comunicação. Estuda assuntos como a eficácia e a exactidão. Vê a comunicação como um processo pelo qual uma pessoa afecta o comportamento ou o estado de espírito de outra. Quando o efeito é diferente ou menor do que aquele que se pretendia, [a problemática processual] tende a falar em termos de fracasso de comunicação e a analisar os estádios do processo para descobrir onde é que a falha ocorreu».
· A problemática semiótica vê a comunicação como uma produção e troca de significados. «Estuda como as mensagens, ou textos, interagem com as pessoas de modo a produzir significados, ou seja, estuda o papel dos textos na nossa cultura. Usa termos como significação, e não considera que os mal-entendidos sejam necessariamente evidência do fracasso de comunicação — eles podem resultar de diferenças culturais entre o emissor e o receptor. O principal método de estudo é a semiótica» — a ciência dos signos e significados.

Cada uma destas problemáticas da comunicação tem afinidades com determinados grupos disciplinares. Assim, a problemática processual tende a aproximar-se das ciências sociais, da psicologia e da sociologia em particular, e tende a debruçar-se sobre os actos de comunicação. A problemática semiótica tende a aproximar-se da linguística e das disciplinas de arte, e tende a debruçar-se sobre os trabalhos de comunicação.
Cada uma destas problemáticas da comunicação interpreta, à sua maneira, a definição da comunicação como interacção social através de mensagens. A problemática processual define a interacção social como o processo pelo qual uma pessoa se relaciona com outras ou afecta o comportamento, o estado de espírito ou a reacção emocional de outra e vice-versa. A problemática semiótica define a interacção social como aquilo que constitui o indivíduo como membro de uma cultura ou sociedade determinadas. Assim, por exemplo, ao apreciarem um determinado estilo de música rock, os adolescentes estão a exprimir a sua identidade como membros de uma subcultura juvenil e, ainda que de forma indirecta, interagem com outros membros da sua sociedade.
Cada uma destas problemáticas da comunicação tem um entendimento divergente daquilo que constitui uma mensagem. A problemática processual define a mensagem como o que é transmitido pelo processo de comunicação. A intenção do emissor é um factor crucial para decidir sobre o que constitui uma mensagem. Esta intenção pode ser explícita ou implícita, consciente ou inconsciente, mas tem que ser recuperável através de análise. A mensagem é o que o emissor nela coloca, independentemente dos meios utilizados. A problemática semiótica encara a mensagem como uma construção de signos que, pela interacção com os receptores, produzem significados. O emissor, definido como transmissor da mensagem, perde importância. A ênfase vira-se para o texto e para a forma como este é lido. E ler é o processo de descobrir significados que ocorre quando o leitor interage ou negoceia com o texto. Esta negociação tem lugar quando o leitor traz aspectos da sua experiência cultural e os relaciona com códigos e signos que formam o texto. Envolve também um certo entendimento comum quanto àquilo de que o texto trata. Assim, leitores com experiências sociais diferentes, ou de diferentes culturas, poderão encontrar significados diferentes no mesmo texto, mas isto não significa necessariamente evidência de fracasso da comunicação. A mensagem não é, portanto, algo enviado de A para B, mas sim um elemento numa relação estruturada, cujos outros elementos incluem a realidade exterior e o produtor/leitor. A produção e a leitura do texto são vistas como processos paralelos, se não idênticos, por ocuparem o mesmo lugar nesta relação estruturada.
Cada uma destas problemáticas da comunicação tem a sua própria concepção de código. A problemática processual encara os códigos como meios para codificar e descodificar mensagens, enquanto a problemática semiótica os considera como sistemas de significação.
As duas problemáticas teóricas da comunicação examinadas divergem entre si em, pelo menos, cinco aspectos fundamentais: definição de comunicação, afinidade com determinados grupos disciplinares, definição de interacção social, definição de mensagem e definição de código. Além destas divergências, é necessário ter em conta as consequências que derivam delas, em particular o papel atribuído à intencionalidade.


1. A PROBLEMÁTICA PROCESSUAL DA COMUNICAÇÃO


O instrumental conceptual da problemática processual da comunicação estrutura-se e organiza-se em torno do conceito de comunicação como processo de transmissão de mensagens. Desta problemática teórica decorrem muitas teorias e modelos da comunicação, dos quais destacaremos os modelos de Shannon e Weaver (1949), de Gerbner (1956), de Lasswell (1948), de Newcomb (1953), de Westley e Maclean (1957), e de Jakobson (1960). Além destes modelos, estudaremos os modelos da comunicação de Schramm (1960), de Rao (1969), de De Fleur (1966), de Berlo (1960) e de Moles (1967). Todos estes modelos da comunicação são, por definição, tentativas de explicar novas leis em termos de leis antigas que já foram testadas e decorrem necessariamente da problemática processual da comunicação. Um modelo é como um mapa. Representa as características seleccionadas do seu território: nenhum mapa ou modelo pode ser exaustivo. Apresentam as características básicas da comunicação em geral e, a partir daí, procuram alargar o seu domínio de aplicação a níveis mais complexos de comunicação, em particular à comunicação colectiva e aos mass media. Assim, o modelo de Gerbner pretende ser universalmente aplicável: pode explicar qualquer exemplo de comunicação e destaca os elementos-chave que são comuns a todo e qualquer acto de comunicação. O modelo de Lasswell-Nixon verbaliza o modelo de Shannon e Weaver e aplica-o seguidamente aos mass media. Newcomb rompe com os modelos lineares e fornece-nos um modelo triangular, tendo em vista o estudo da comunicação interpessoal ou social. Westley e MacLean reconvertem este modelo à sua forma linear mais conhecida quando o desenvolvem para aplicação aos mass media. O modelo de Jakobson é uma espécie de ponte entre os modelos de comunicação semióticos e processuais. Os restantes modelos derivam basicamente do modelo de Shannon e Weaver e, socorrendo-se de conceitos cibernéticos e sistémicos, procuram explicar detalhadamente a comunicação de massas. Destes modelos merece especial destaque o modelo de Rao: estuda a comunicação social nos países subdesenvolvidos, onde a maior parte da população é analfabeta e não tem acesso aos meios audiovisuais, a não ser através de intermediários ou da organização de pequenos grupos.


O MODELO DE SHANNON E WEAVER (1949). O modelo de Shannon e Weaver — exposto na obra Mathematical Theory of Communication — é um processo simples e linear, considerado como uma das principais fontes de onde nasceram os Estudos da Comunicação.
Shannon e Weaver identificam três níveis de problemas no estudo da comunicação, a saber:


Nível A
(problemas técnicos)
Com que precisão se podem transmitir os símbolos da comunicação?
Nível B
(problemas semânticos)
Com que precisão os símbolos transmitidos transportam o significado pretendido?
Nível C
(problemas de eficácia)
Com que eficácia o significado recebido afecta a conduta da maneira desejada?

O modelo foi originalmente desenvolvido para explicar os problemas técnicos do nível A. Os problemas semânticos do nível B são mais difíceis de resolver. Shannon e Weaver consideram que o significado está contido na mensagem: assim, melhorando a codificação, aumenta a exactidão semântica. Contudo, o modelo não especifica os factores culturais que entram em jogo neste processo de comunicação: o significado encontra-se tanto na cultura como na mensagem, no mínimo em proporções idênticas. Os problemas de eficácia do nível C parecem indicar que Shannon e Weaver encaram a comunicação como manipulação ou propaganda: A comunicou eficazmente com B quando B reage da forma que A deseja. Os três níveis são interdependentes e inter-relacionados e o modelo pretende funcionar igualmente bem para os três níveis.
A fonte é vista como detentora do poder de decisão, isto é, a fonte decide qual a mensagem a enviar, ou melhor, selecciona uma de entre um conjunto de mensagens possíveis. Esta mensagem seleccionada é depois transformada, pelo transmissor, num sinal que é enviado ao receptor, através do canal.
O ruído é algo que é acrescentado ao sinal, entre a sua transmissão e a sua recepção, e que não é pretendido pela fonte. Distorção do som ou interferências numa linha telefónica são exemplos de ruído que ocorrem dentro do canal. Contudo, o conceito de ruído foi alargado de forma a significar qualquer sinal recebido que não foi transmitido pela fonte, ou qualquer coisa que torna o sinal pretendido mais difícil de descodificar com exactidão. Deste modo, Shannon e Weaver distinguem entre ruído semântico (nível B) e ruído de engenharia (nível A). O ruído semântico define-se como uma qualquer distorção de significado que ocorre no processo de comunicação e que não é pretendido pela fonte, mas que afecta a recepção da mensagem no seu destino. O ruído, quer tenha origem no canal, no público, no emissor ou na própria mensagem, confunde sempre a intenção do emissor, limitando deste modo a quantidade de informação desejada que pode ser enviada numa dada situação, num determinado tempo.
Concentrando o seu trabalho no nível A, Shannon e Weaver definem a informação como a medida da previsibilidade do sinal, ou seja, como o número de escolhas à disposição do seu emissor. Definida deste modo, a informação nada tem a ver com o seu conteúdo. Um sinal é a forma física de uma mensagem (ondas sonoras no ar, ondas de luz, impulsos eléctricos ou toques) e um código pode ser constituído por dois sinais — acender uma lâmpada uma vez, ou acendê-la duas vezes. A informação contida por cada um destes sinais é idêntica: 50 por cento de previsibilidade, independentemente do que eles realmente significam. Usa-se a unidade “bit” para medir a informação. A palavra bit é uma abreviatura de binary digit (dígito binário) e significa, na prática, uma escolha entre Sim e Não.
A redundância é aquilo que, numa mensagem, é previsível ou convencional. O oposto da redundância é a entropia. A redundância resulta de uma previsibilidade elevada e a entropia de uma previsibilidade reduzida. Assim, pode dizer-se que uma mensagem de baixa previsibilidade é entrópica e com muita informação. Inversamente, uma mensagem de elevada previsibilidade é redundante e com pouca informação. A redundância desempenha dois tipos de funções na comunicação: a primeira é técnica e refere-se à maneira como ela ajuda a superar os problemas práticos da comunicação; e a segunda implica o alargamento do seu conceito a uma dimensão social.

· Tecnicamente, a redundância facilita a exactidão da descodificação e fornece um teste que permite identificar erros. Estamos sempre a testar a exactidão das mensagens que recebemos em relação ao provável e o que é provável é determinado pela nossa experiência do código, do contexto e do tipo de mensagem, ou seja, pela nossa experiência da convenção e do costume. A convenção é uma fonte importante de redundância e, como tal, de fácil descodificação. A redundância ajuda a superar as deficiências de um canal com ruído e ajuda também a superar os problemas de transmissão de uma mensagem entrópica. A redundância ajuda também a resolver problemas associados à audiência. Se desejarmos atingir uma audiência heterogénea, maior, precisaremos de produzir uma mensagem com um elevado grau de redundância. Por outro lado, uma audiência pequena, especializada e homogénea, pode ser conquistada com uma mensagem mais entrópica. Assim, a arte popular é mais redundante que a arte de elite. Além disso, a escolha do canal pode afectar a necessidade de redundância na mensagem: assim, a fala é mais redundante do que a escrita. Estruturar uma mensagem de acordo com padrões comuns, ou com convenção, é uma forma de diminuir a entropia e aumentar a redundância. Em termos gerais, podemos dizer que os codificadores — sejam eles artistas, pregadores ou políticos — que criam redundância nas suas mensagens estão virados para o público. Preocupam-se em comunicar. Os que não o fazem estão mais preocupados com o assunto em questão ou (se forem artistas) com a forma. Assim, a redundância tem a ver, em primeiro lugar, com a eficácia da comunicação e com a superação dos problemas práticos de comunicação.
· Sociologicamente, ao nível das relações sociais, a redundância reforça os laços sociais e mostra que nós (os leitores) somos uma comunidade que partilha das mesmas atitudes, dos mesmos significados sociais. Vemos as coisas da mesma maneira. Isso tanto reafirma os nossos laços sociais com os outros como o nosso sentido de justiça da nossa visão do mundo. A redundância é geralmente uma força a favor do status quo e contra a mudança. A entropia é menos confortável, mais estimulante, talvez mais chocante, mas mais difícil de comunicar com eficácia.

Os conceitos de canal e de código só podem ser definidos adequadamente, relacionando-os com um termo que Shannon e Weaver não usam: esse termo é o meio. O canal é o meio físico pelo qual o sinal é transmitido. Os principais canais são as ondas de luz, as ondas sonoras, as ondas de rádio, os cabos telefónicos, enfim, o sistema nervoso. O meio compreende os recursos técnicos ou físicos para converter a mensagem num sinal capaz de ser transmitido ao longo do canal. A voz humana e as tecnologias de difusão são exemplos de meios. As propriedades tecnológicas ou físicas de um meio são determinadas pela natureza do canal ou canais disponíveis para o seu uso. Essas propriedades do meio determinam depois o leque de códigos que ele pode transmitir. Podemos dividir os meios em três categorias principais:

1. Os meios apresentativos: a voz, o rosto, o corpo. Usam as linguagens «naturais» das palavras faladas, das expressões ou dos gestos. Requerem a presença de um comunicador, pois ele é o meio; estão restringidos ao aqui e agora e produzem actos da comunicação.
2. Os meios representativos: livros, pinturas, fotografias, escrita, arquitectura, decoração de interiores, enfim, jardinagem. Há numerosos meios que usam convenções culturais e estéticas para criarem um «texto» de qualquer natureza. Eles são representativos e criativos. Produzem um texto que pode registar os meios da categoria 1 e que pode existir independentemente do comunicador. Produzem obras de comunicação.
3. Os meios mecânicos: telefones, rádio, televisão, telex. São transmissores das categorias 1 e 2. A principal distinção entre as categorias 2 e 3 é que os meios da categoria 3 usam canais criados pela engenharia e estão, portanto, sujeitos a maiores limitações tecnológicas. São também mais afectados pelo ruído do nível A do que os da categoria 2.

Estas categorias são permeáveis entre si e podem ser fundidas numa só categoria, como o demonstra um estudo realizado por Katz, Gurevitch e Hass (1973).
Um código é um sistema de significados comum aos membros de uma cultura ou subcultura. Consiste tanto em signos, como em regras ou convenções que determinam como e em que contextos estes signos são usados e como podem ser combinados de maneira a formar mensagens mais complexas. A relação mais simples é entre código e canal: as características físicas do canal determinam a natureza dos códigos que pode transmitir. Por vezes, é necessário desenvolver vários códigos secundários para tornar uma mensagem, já codificada, transmissível por um determinado canal. A relação entre meio e código é mais complexa: um meio pode utilizar vários canais e cada um deles pode usar códigos específicos. As limitações do meio são sempre tecnológicas: os códigos operam no seu seio.
Shannon e Weaver não utilizaram o conceito de feedback: a transmissão da reacção do receptor de volta ao emissor. Os modelos que enfatizam o feedback são os que têm uma orientação cibernética. Criada por Wiener, a cibernética é a ciência do controlo. Na comunicação humana, o feedback permite ao orador adaptar o seu desempenho às necessidades e reacções de uma audiência. Alguns canais de comunicação, como por exemplo os mass media, limitam o acesso e, por isso, limitam o feedback, cuja função principal consiste em ajudar o comunicador a adaptar a sua mensagem às necessidades e reacções do receptor. Além disso, ajuda o receptor a sentir-se envolvido na comunicação. Embora o feedback inclua um percurso de retorno do destino à fonte, ele não elimina a linearidade do modelo da comunicação como processo de transmissão de mensagens. Está presente para tornar mais eficaz o processo da transmissão das mensagens.


O MODELO DE GERBNER (1956). George Gerbner elaborou um modelo de comunicação, tendo em vista a sua aplicação universal: explicar qualquer exemplo de comunicação e mostrar os elementos-chave que são comuns a todo e qualquer acto de comunicação.
Em relação ao modelo de Shannon e Weaver, Gerbner introduz duas alterações significativas:

— relaciona a mensagem com a «realidade» a que ela se refere, permitindo-nos assim tratar questões de percepção e de significação; e
— vê no processo de comunicação duas dimensões que se alternam: a perceptiva ou receptiva e a dimensão comunicante ou de meios e controlo.

De acordo com o seu modelo, o processo de comunicação começa com um acontecimento A, com algo da realidade externa que é percebido por M (pessoa ou máquina). A percepção que M tem de A é a percepção A1. Esta é a dimensão perceptiva que se encontra no início do processo de comunicação. A relação entre A e A1 envolve uma selecção, na medida em que M não pode possivelmente perceber toda a complexidade de A. A percepção humana não é uma simples recepção de estímulos, mas um processo de interacção ou negociação. Os estímulos externos são enquadrados em conceitos ou padrões internos do pensamento. Este enquadramento permite-nos perceber algo e conferir-lhe um significado. Isto significa que o significado deriva do enquadramento de estímulos externos em conceitos internos. Este enquadramento é controlado pela nossa cultura, na medida em que os nossos conceitos internos (ou padrões de pensamento) se desenvolveram como resultado da nossa experiência cultural. Assim, pessoas de diferentes culturas perceberão a realidade de maneira diferente. A percepção não é somente um processo psicológico, mas também uma questão cultural.
A dimensão vertical verifica-se quando a percepção A1 é convertida num sinal sobre A — SA. A mensagem mais não é que um sinal ou uma afirmação sobre o acontecimento. O círculo que representa esta mensagem divide-se em dois: o S refere-se à mensagem como um sinal, à forma que ele assume e o A refere-se ao seu conteúdo. Um dado conteúdo (ou A) pode ser comunicado de maneiras diferentes — há vários Ss potenciais por onde escolher e encontrar o melhor S para um determinado A é uma das preocupações cruciais do comunicador. Nesta dimensão vertical, a selecção é tão importante como na dimensão horizontal. Primeiro, há a selecção dos meios — meio e canal de comunicação. Depois há a selecção a partir da percepção A1. Da mesma forma que A1 nunca pode ser uma reacção completa e abrangente a A, também um sinal sobre A1 nunca pode atingir a plenitude ou globalidade. Tem que haver selecção e distorção.
O conceito de acesso aos meios e canais de comunicação permite-nos estudar e determinar quem tem especificamente acesso aos meios de comunicação de massas. A dimensão horizontal diz-nos que A1 é uma selecção de A. Esta selecção é feita por alguém (Quem faz a selecção?), que a transmite como SA, na qual está subjacente uma determinada imagem do mundo (Qual a imagem do mundo que é transmitida como SA?). O acesso aos meios é uma forma de exercer poder e controlo social.
Na terceira fase do processo — e ainda na dimensão horizontal —, aquilo que está a ser percebido pelo receptor M2 não é um acontecimento A, mas sim um sinal ou afirmação sobre um acontecimento ou SA. O significado de uma mensagem não está contido na própria mensagem, sendo, antes, o resultado de uma interacção ou negociação entre o receptor e a mensagem. M2 leva a SA um conjunto de necessidades e conceitos derivados da sua cultura ou subcultura e, na medida em que conseguir relacionar SA com eles, pode dizer-se que encontra significado na mensagem. A mensagem propriamente dita deve ser vista como um potencial de muitos significados. Este potencial nunca se realiza completamente e a forma que assume só é determinada depois de ocorrer uma interacção ou uma negociação entre M2 e SA: o significado resultante é SA1.
Na dimensão horizontal, o factor disponibilidade é equivalente a acesso. O conceito de disponibilidade, tal como o de selectividade, ajuda a determinar o que realmente é percebido. É outra forma de selectividade, só que neste caso a selecção não é efectuada por aquele que percepciona, mas pelo comunicador. Aquilo que é seleccionado pelo comunicador é como e, consequentemente, a quem a mensagem deve ser disponibilizada. Acesso e disponibilidade são duas fases da mesma moeda.
O modelo de Gerbner possibilita extensões múltiplas e permite-nos incluir agentes humanos e mecânicos no processo. Para ilustrar a semelhança básica entre o seu modelo e o de Shannon e Weaver, Gerbner representa graficamente uma conversa telefónica. O modelo básico de Gerbner é uma relação triangular entre o acontecimento A, a percepção do acontecimento, A1, e a afirmação acerca do acontecimento, SA. Nesta relação, a significação será encontrada de forma primária: de facto, numa variante posterior do seu modelo, Gerbner liga A e SA com uma seta designada «qualidade de verdade». Mas a extensão do seu modelo de modo a incluir M3, o receptor, não nos permite acrescentar estes factores que determinam a significação à percepção que o receptor tem da mensagem.


O MODELO DE LASSWELL (1948). Lasswell legou-nos outro modelo de comunicação, mas o seu modelo é claramente um modelo de comunicação de massas. Para compreendermos os processos da comunicação de massas, precisamos de estudar cada um dos estádios do modelo de Lasswell, a saber:

Quem
Diz o quê
Em que canal
A quem
Com que efeito?

A comunicação é o resultado de uma relação entre dois sujeitos, um activo e o outro passivo: o primeiro (Quem) diz a sua mensagem (Diz o quê), através de um meio (Em que canal), ao segundo quem (A quem), com determinadas consequências (Com que efeitos).
Trata-se de uma versão verbal do modelo original de Shannon e Weaver e, como tal, continua a ser linear: a comunicação é encarada como transmissão de mensagens e, em vez de levantar a questão da significação, coloca a questão do “efeito”. O “efeito” implica uma mudança observável e mensurável no receptor, mudança essa causada por elementos identificáveis no processo. Mudar um desses elementos mudará o efeito: podemos modificar o codificador, podemos mudar a mensagem, podemos mudar o canal — cada uma dessas mudanças deverá produzir, no efeito, a mudança adequada.
A maior parte da investigação sobre comunicação de massas deriva claramente deste modelo linear baseado no conceito de comunicação como processo de transmissão de mensagens. Os estudos científicos da comunicação especializaram-se, precisamente por incidirem num ou noutro dos elementos deste diagrama. As análises do controlo estudam «o quem profissional»; as análises dos meios ocupam-se dos canais; e, ao estudar «o quem que recebe a comunicação», as análises tratam ou do público que percebe as mensagens, ou do impacto da mensagem (análise de efeitos).
Nixon acrescenta dois elementos ao modelo de Lasswell, a saber:

— O primeiro elemento é a ideia de que cada acto de comunicação tem uma intenção específica ou propósito.
— O segundo elemento diz que o êxito da comunicação depende do uso habilidoso de meios adequados sob condições favoráveis.

Esta alteração do modelo de Lasswell reflecte-se cientificamente num duplo plano de análise: a análise das intencionalidades do sujeito que fala, revelando o propósito procurado na sua comunicação, e a análise dos efeitos que a comunicação produz naqueles que a recebem.


O MODELO DE NEWCOMB (1953). O modelo de Newcomb é triangular e o seu principal interesse reside no facto de ser o primeiro modelo a introduzir o papel da comunicação numa sociedade ou numa relação social.
Para Newcomb, o papel da comunicação numa sociedade consiste em manter o equilíbrio no interior do sistema social. O modelo funciona da forma seguinte: A e B são o comunicador e o receptor; podem ser indivíduos, ou o patronato e o sindicato, ou o governo e o povo. X faz parte do seu ambiente social. ABX é um sistema, o que significará que as suas relações internas são interdependentes: se A muda, B e X mudarão também, ou, se A mudar a sua relação com X, B terá que mudar a sua relação ou com X ou com A. O sistema só está em equilíbrio quando A e B têm atitudes semelhantes relativamente a X; caso contrário, a comunicação entre A e B ficará sob pressão até que cheguem a um acordo sobre X. Este acordo é fundamental, sobretudo quando ocorrem mudanças em X: devemos ter uma informação adequada sobre o nosso ambiente social para sabermos como lhe reagir e para identificarmos na nossa reacção factores que possamos partilhar com os parceiros do nosso grupo, subcultura ou cultura.

O MODELO DE WESTLEY E MACLEAN (1957). Westley e MacLean transformaram o modelo de Newcomb, adaptando-o especificamente aos mass media. Fizeram duas alterações:

— introduziram um elemento novo, C, que é a função editorial-comunicativa, isto é, o processo de decidir o quê e como comunicar;
— alargaram o modelo, regressando assim à conhecida forma linear dos modelos centrados na comunicação como processo de transmissão de mensagens.

No modelo de Westley e MacLean, X encontra-se mais próximo de A do que de B e as setas são unidireccionais. A torna-se mais próximo do codificador de Shannon e Weaver e C adquire alguns elementos do transmissor. X é fragmentado para mostrar a sua natureza multifacetada (fragmentação de X).
Quando aplicam o modelo especificamente à comunicação de massas, Westley e MacLean alargam ainda mais o triângulo de Newcomb e, no diagrama resultante, A pode ser visto como um repórter que envia uma história a C, a redacção do seu jornal/rádio/televisão. Os processos editorial e de publicação/gravação (que estão contidos em C) trabalham então essa história e transmitem-na a B, o público. Neste modelo, B perdeu qualquer experiência directa ou imediata de X, visto que perdeu uma relação directa com A.
Segundo Westley e MacLean, os mass media ampliam o meio ambiente social com que B precisa de se relacionar e fornecem, ao mesmo tempo, os meios através dos quais essa relação ou orientação se opera. Westley e MacLean conservam a ideia de Newcomb de que uma orientação partilhada na direcção de X é um motivo para a comunicação e prevêem oportunidades restritas para o feedback. Contudo, inverteram de forma crucial o equilíbrio do sistema de Newcomb. A e C desempenham agora papéis dominantes e B está muito mais à mercê deles. Embora a necessidade de informação e de orientação de B tenha aumentado significativamente na sociedade de massas, os meios para satisfazer essa necessidade foram restringidos: os mass media são os únicos meios disponíveis. Na extensão lógica deste modelo, B torna-se totalmente dependente dos mass media. Este modelo da dependência não leva em conta a relação entre os mass media e os outros meios de que dispomos para nos orientarmos relativamente ao nosso meio ambiente social. Estaremos tão dependentes dos mass media como este modelo leva a crer?


O MODELO DE W. SCHRAMM (1949). Wilbur Schramm adaptou a teoria matemática da informação de Shannon e Weaver, tendo em vista a sua aplicação ao campo da comunicação humana. Contudo, introduziu uma importante modificação: para o estabelecimento da comunicação é necessário que ambos os pólos — o que emite e o que recebe a mensagem — utilizem uma mesma linguagem ou partilhem uma «inteligência semântica». Ora, isto só é possível quando existe entre eles um campo comum de experiências que os leve a atribuir um significado comum às palavras ou aos outros signos usados.
No modelo de Schramm, o entroncamento dos campos de experiência do comunicador (fonte) e do receptor (destino) cristaliza-se à volta da mensagem que se comunica. Neste campo comum, actuam os factores de atracção-factores de percepção que constituem o meio de comunicação semântica. Neste ponto, Schramm introduz o conceito de ruído (ruído semântico) para designar toda a incorrecção de linguagem ou de significado, ou todo o mau uso de um signo ou de um termo, que possa produzir uma interferência na comunicação por dificuldades de percepção e de interpretação.
Schramm situa na fonte o profissional da informação; no campo de experiência comum, o meio técnico em que se materializa a comunicação (imprensa, rádio, televisão, cinema); e no campo do destino, o ambiente social que recebe a comunicação através de um determinado meio técnico.
Em 1954, Schramm apercebe-se do extraordinário poder difusor de todos e de cada um dos meios de comunicação de massas e da sua acção pública. Esta não é uma simples difusão vertical e sem resposta: há uma comunicação de volta (ou de regresso), que enriquece, rectifica ou retroalimenta a própria fonte da mensagem. Desta constatação resulta a sua famosa tuba (modelo alterado). Neste novo modelo, a informação é um fluxo contínuo de mensagens, que, provenientes da realidade, são reelaboradas na fonte profissional e difundidas massiva e identicamente em todas as direcções. Esta difusão massificada é recebida e reelaborada a nível de grupo e, de algum modo, devolvida, sob uma nova forma, à fonte como uma espécie de retroalimentação ou de reaproveitamento da informação. Para Schramm, a comunicação é sempre um processo, cuja função mais importante é a criação de uma ideologia da mudança. A circulação contínua de mensagens (entre emissores e receptores) é a manifestação da vontade de mudanças concretas, que, a longo prazo, produzem uma vontade de mudança social: o efeito de maior alcance da comunicação colectiva.


O MODELO DE RAO (1969). Y. V. Lakshamana Rao estudou os efeitos da comunicação nas sociedades subdesenvolvidas. O seu modelo de comunicação representa graficamente o modo como os meios de comunicação chegam, directa e indirectamente, a todo o tipo de população, mesmo à população analfabeta e que não siga a rádio e a televisão. Entre os instrumentos informativos — os impressos, por um lado, e os audiovisuais, por outro lado, — e os núcleos da população, seja qual for a sua preparação cultural, estabelece-se uma complexa relação de duplo sentido e indirecta, da qual resulta que a acção informativa, incluindo a dos meios impressos, chega, por exemplo, até à população que não sabe ler e escrever e que não tem acesso aos meios audiovisuais, através dos grupos intermediários que sabem ler e que seguem regularmente as emissões dos meios audiovisuais.
Para Rao, a comunicação é sempre um processo social ou público e ininterrompido, que vai enriquecendo progressivamente o acervo cultural e o universo mental e cuja consequência mais significativa é uma mudança nos aspectos mais diversos do estilo de vida das populações, já que os instrumentos da comunicação incidem no desenvolvimento social, político e económico. Esta mudança ocorre devido ao facto dos analfabetos apresentarem as suas exigências aos meios informativos, mediante um processo designado por selectividade convergente (William Stephenson). A selectividade convergente de muitos indivíduos estabelece o papel que eles esperam que deve desempenhar, em seu proveito, um determinado meio de comunicação. A selectividade convergente e o aumento da auto-estima constituem assim os dois princípios que fundamentam a comunicação colectiva.


O MODELO DE DE FLEUR (1966). Para De Fleur, a comunicação requer que haja coordenação de significados, ou melhor, isomorfismo de significados. O seu modelo — mais conhecido por componentes de um sistema geral para atingir o isomorfismo dos significados — procura responder ao modo como actua o símbolo significativo na troca comunicativa que conduz um indivíduo a compreender o estímulo iniciado por outro indivíduo. Os elementos do processo de comunicação são os seguintes: a fonte que dá ao significado a forma de mensagem, o transmissor que, ao codificar a mensagem, a transforma em informação, o canal que é o meio natural ou artificial por onde circula a informação, o receptor que decifra a informação e o destino que, uma vez percebida a mensagem, interpreta o seu significado. Quando a mensagem chega ao seu destino e o seu significado é interpretado, a comunicação tem lugar se e somente se o significado do destino for isomorfo em relação ao da fonte que originou o acto de comunicação. O isomorfismo, que supõe uma equivalência na estrutura das respostas internas significativas da fonte e o destino, não ocorre facilmente: a comunicação pode não ocorrer por falta de correspondência e de coordenação dos repertórios significativos de ambos os pólos da comunicação (a fonte e o destino) e pela existência de um elemento perturbador (o ruído), definido como toda a causa psicológica, cultural ou mecânica que impede a equivalência de respostas ou a coordenação dos significados. O ruído pode estar presente não só na comunicação de ida, mas também na comunicação de volta (processo de retroalimentação). Este conjunto bidireccional de componentes actua como um sistema em que a informação progride primeiramente num sentido (da fonte para o destino) e depois no sentido oposto (do destino para a fonte) ou em ambos os sentidos ao mesmo tempo. Pode funcionar com extrema rapidez numa conversação ou muito lentamente quando os participantes recorrem à escrita ou a outros meios de comunicação.
A aplicação deste modelo ao estudo da comunicação colectiva deve ter em conta o procedimento técnico empregado e as condições ambientais dos sujeitos participantes, visto que, num processo de comunicação humana, as consequências são distintas segundo o procedimento técnico usado e as condições ambientais dos participantes. Estes condicionamentos decorrem do facto da comunicação colectiva envolver meios técnicos de longo alcance e ser dirigida a um público amplo, disperso e indiferenciado.


O MODELO DE BERLO (1960). David K. Berlo propôs um modelo das componentes da comunicação, no qual estabelece a relação entre os quatro elementos que compõem o processo comunicativo: a fonte, a mensagem, o canal e o receptor. Cada um dos quatro elementos componentes da comunicação está sujeito à acção de uma série de factores modificadores que incidem sobre o acto comunicativo, quer seja interindividual ou colectivo. Assim, por exemplo, num acto comunicativo colectivo, os canais naturais (os cinco sentidos) são geralmente amplificados, por sua vez, por um instrumento técnico de comunicação à distância. A fonte e o receptor são condicionados pelas habilidades, atitudes, conhecimento, sistema social e pela cultura a que pertencem. O mesmo ocorre com os restantes factores da comunicação e isto porque todos os componentes e factores da comunicação estão interrelacionados.


O MODELO DE MOLES (1967). Segundo Abraham A. Moles, o mundo da cultura é uma imensa rede de circuitos mais ou menos fechados de produtos culturais, relacionados uns com os outros, interferindo uns nos outros, prodigiosamente complexos e estatisticamente determinados. Moles esboça uma teoria geral da cultura, concebida no contexto da sociedade de massas, — conhecida pela designação de sócio-dinâmica da cultura —, baseada precisamente neste aspecto cíclico que intervém como factor de ordem a grande escala. De acordo com esta teoria, os meios de comunicação social são tanto suportes de mensagens culturais como amplificadores da própria cultura. Na sociedade de massas, os novos instrumentos difusores postos ao serviço da cultura e as enormes necessidades culturais de uma massa de público progressivamente interessado aceleraram o declínio da cultura tradicional, minoritária e elitista, e exigiram uma verdadeira programação do uso cultural dos instrumentos de comunicação de massas. Esta teoria analisa previamente as fases técnicas de produção, transmissão e difusão da cultura que circula nestes meios.
Dos esquemas elaborados por Moles seleccionámos apenas os que ajudam a clarificar o processo de comunicação: o ciclo sociocultural de base, o mecanismo de decisão num sistema de comunicação de massas, o organigrama possível de uma cadeia de rádio-televisão e o esquema de uma fábrica intelectual na sociedade moderna. Estes esquemas representam graficamente os diversos caminhos e fases que recorrem os conteúdos culturais no processo geral da comunicação social.
O ciclo sociocultural de base: Neste esquema, os efeitos culturais são expressos a girar em sentido contrário ao dos ponteiros de um relógio. À esquerda, os criadores — ou indivíduos isolados — são os que produzem as ideias novas que, de diferentes formas e cristalizações técnicas, se detêm na sociedade intelectual, na elite. Da elite, e através dos instrumentos de difusão cultural minoritários (livros e revistas, revistas técnicas, bibliotecas e museus), constituem-se num quadro sociocultural, no qual acontecem os factos culturais da actualidade. Mais tarde, os mass media — imprensa, cinema, rádio, televisão —, sob a pressão das suas próprias directivas, incidem no público geral que protagoniza a vida quotidiana e, a partir desta e nesta, difundem-se as reacções de todos, que voltam a ser recolhidas pelos criadores.
O mecanismo de decisão num sistema de comunicação de massas: Neste esquema, Moles explicita os mecanismos e os elementos que intervêm na tomada de decisões nos meios de comunicação social. As compulsões interiores dos meios (tomadas de posição prévias, tradições da empresa, ideologia dos executivos), bem como as compulsões que chegam do exterior (opinião pública, instituições, centros de poder), estão claramente representadas neste esquema.
O organigrama possível de uma cadeia de rádio-televisão: Neste organigrama, Moles projecta a utilização da rádio e da televisão como os veículos ideais para oferecer ao público a selecção dos factos culturais que constituem a essência da vida intelectual e cultural em cada momento. O caminho seguido pelos factos culturais, no processo técnico que transcorre desde a sucessão real até à sua emissão ao público, reveste as características de uma verdadeira produção industrial, que, para ser adequada às necessidades sociais, necessita auscultar continuamente as reacções e os desejos do público.
O esquema de uma fábrica intelectual na sociedade moderna: Este esquema é um projecto de futuro, no qual Moles representa graficamente o modo como pode ser organizada a indústria da cultura, para o aproveitamento, na tríplice fase de preparação, criação e difusão, de todas as criações culturais num dado momento e para a sua utilização por um público cada vez mais numeroso e alargado em todos os sentidos — geográfico, cultural, político ou linguístico.


O MODELO DE JAKOBSON (1960). Existem vários tipos de comunicação, mas toda a comunicação tem por objectivo a transmissão de uma mensagem e é constituída por um determinado número de elementos, a saber: Emissor ou Destinador, Receptor ou Destinatário, Referente, Canal de Comunicação, Mensagem e Código. Destinador ou Emissor, que envia a Mensagem a um Destinatário ou Receptor, através de um Canal de Comunicação. Para isso, ele utiliza um determinado Código, que é comum ao codificador e ao descodificador da mensagem. A situação que envolve a produção da mensagem, a realidade a que ela reenvia, constituem o Referente ou Contexto.

O emissor ou destinador é o que emite a mensagem. Pode ser um indivíduo ou um grupo (firma, organismo de difusão, Estado, etc.).
O receptor ou destinatário é o que recebe a mensagem. Pode ser um indivíduo, um grupo, um animal ou mesmo uma máquina (computador). Nestes casos, a comunicação só se realiza efectivamente se a recepção da mensagem tiver uma incidência observável sobre o comportamento do destinatário. Isto não significa necessariamente que a mensagem tenha sido compreendida. Por isso, é preciso distinguir cuidadosamente recepção e compreensão.
A mensagem é o objecto da comunicação e é constituída pelo conteúdo das informações transmitidas.
O canal de comunicação é a via de circulação de mensagens e, de um modo geral, pode ser definido pelos meios técnicos aos quais o destinador tem acesso, a fim de assegurar o encaminhamento da sua mensagem para o destinatário.
O código é um conjunto de signos e de regras de combinação destes signos. O destinador serve-se dele para elaborar a sua mensagem (operação de codificação). O destinatário identificará este sistema de signos (operação de descodificação) se o seu repertório for comum ao do emissor. A construção da mensagem por meio de signos chama-se codificação e situa-se a nível do emissor. A operação inversa, que é a da recepção e reconhecimento dos signos (atribuindo-lhes um sentido) é a descodificação, efectuada pelo destinatário.
O referente é constituído pelo contexto, pela situação e pelos objectos reais aos quais a mensagem remete.

O acto de comunicar pressupõe uma determinada intenção por parte do emissor: o homem comunica quer para transmitir informações ou ordens, quer para exprimir sentimentos, e a cada um destes propósitos a linguagem se adapta, conferindo um valor específico ao acto de comunicação. A cada um dos seis elementos implicados no processo de comunicação corresponde, no quadro da comunicação estabelecida pela linguagem, uma função linguística. Jakobson descreveu as funções da linguagem, a partir dos seis factores da comunicação — o seu modelo é, por isso, duplo: O emissor encontra-se directamente implicado na mensagem através da Função Emotiva (ou Expressiva). A orientação para o receptor realiza-se na Função Conativa (ou Apelativa). A Função Referencial centra-se no referente; por seu lado, um pendor para o contacto que se estabelece através do canal é indicativo da Função Fática. A Função Metalinguística põe em relevo o código e, finalmente, centrada na mensagem, situa-se a Função Poética.

— A função expressiva, centrada sobre o destinador (ou emissor) da mensagem, exprime a atitude do emissor em relação ao conteúdo da sua mensagem e da situação. Tudo aquilo que, numa mensagem escrita ou falada, revela a personalidade do emissor, concerne à função expressiva.
— A função conativa é a função que se orienta para o destinatário. Tudo o que, numa mensagem, remete directamente ao destinatário dessa mensagem, diz respeito à função conativa, cujas manifestações mais evidentes são os imperativos como “sente-se”, “silêncio”, “saia”, e os vocativos.
— A função referencial, também chamada denotativa, está centrada sobre o referente. Tudo o que, na mensagem, remete aos referentes situacionais ou textuais, concerne à função referencial.
— A função fática está centrada sobre o «contacto» (físico ou psicológico). Tudo o que, numa mensagem, serve para estabelecer, manter ou cortar o contacto (portanto, a comunicação) concerne à função fática.
— A função metalinguística é aquela que está centrada sobre o código. Tudo o que, numa mensagem, serve para dar explicações ou precisar o código utilizado pelo destinador concerne à função metalinguística.
— A função poética é aquela que está centrada sobre a própria linguagem. Ela evidencia o lado palpável dos signos. Tudo o que, numa mensagem, suplementa o sentido da mensagem através do jogo da sua estrutura, da sua tonalidade, do seu ritmo e da sua sonoridade concerne à função poética.

As seis funções da linguagem não se excluem, mas também não se encontram todas reunidas necessariamente numa dada mensagem. Aliás, é muito raro encontrar numa mensagem apenas uma dessas seis funções da linguagem. É mais frequente encontrar na mensagem a superposição de diversas funções da linguagem. No entanto, nalgumas mensagens uma ou outra função da linguagem podem ser dominantes.

Qualquer um dos modelos processuais da comunicação apresentados é incapaz de explicar a comunicação mediada por computador. Esta exige um novo paradigma da comunicação, dada a sua natureza interactiva e global.
J Francisco Saraiva de Sousa

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